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11 de março de 2014

O poeta julho Paulo Fala sobre a Cultura Nordestina e Viola

O poeta julho Paulo Fala sobre a Cultura Nordestina e Viola e das cantorias em Iracema

ORIGEM DA CANTORIA NORDESTINA

ORIGEM DA CANTORIA NORDESTINA
A cantoria de repente teve início, aqui no Nordeste, em terras paraibanas, ali pelas quebradas da serra do Teixeira, no meado do século dezenove, com o surgimento dos primeiros cantadores e repentistas: Agostinho Nunes da Costa(1797-1852) e seus filhos Antônio Ugolino Nunes da Costa, Ugolino do Sabugi(Teixeira – 1832-1895), primeiro grande cantador brasileiro, e Nicandro Nunes da Costa(Teixeira – 1829-1918), o poeta ferreiro. Nessa fase inicial e na de afirmação da cantoria como profissão e arte, vamos encontrar Silvino Pirauá Lima(Patos-PB – 1848-1913), introdutor da sextilha no cordel e na cantoria, do uso da deixa e do martelo-agalopado como se canta hoje; Germano Alves de Araújo Leitão(Germano da Lagoa – Teixeira – PB – 1842-1904); Romano da Mãe d’Água(1840-1891), Francisco Romano Caluête, ou Francisco Romano, considerado o maior cantador de seu tempo, tornado legenda pelas famosas pelejas com Inácio da Catingueira(Catingueira-PB – 1845-1881), o chamado gênio escravo que engrandeceu a cantoria pela beleza e espontaneidade de seu estro. Outro cantador de grande expressão que marcou espaço na época foi Bernardo Nogueira(Teixeira – 1832-1895), de quem diz Câmara Cascudo: - “Violeiro afamado, repentista invencível, mestre-de-armas sertanejo, jogando bem espada e cacete, era mais inteligente que letrado.” (Vaqueiros e Cantadores, p. 309).

Alguns elegem Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno(Bahia – 1633-1693) e o Padre Domingos Caldas Barbosa(1738 – 1800) como precursores da cantoria de viola no Brasil. Os dois, na verdade bons poetas, foram cantadores de modinhas ao som da viola, nunca, porém, repentistas dados a duros e longos desafios. Improvisavam quadrinhas vez por outra, em saraus e reuniões de intelectuais. Caldas Barbosa, em Portugal, despertou a rivalidade do grande Bocage, em face do prestígio do primeiro nos salões palacianos, cantando modinhas e fazendo quadras, vez por outra. Uma feita, Bocage explodiu: - “Improvisa berrando o bode rouco!” Caldas Barbosa, em resposta, acentuou que Bocage,
“Um homem de pouca fé,
Só não fala de Jesus
Porque não sabe quem é!”
O nosso mestre maior, Câmara Cascudo, que estudou a obra de Domingos Caldas Barbosa, para um volume da coleção Nossos Clássicos, não o considerou precursor da cantoria, assim como não deu também tal título a Gregório de Matos. E o mestre Cascudo não deixou a desejar a respeito das origens do desafio, do repente e da cantoria.
Os dois poetas, sem dúvida, influenciaram os violeiros que cantam modinhas e músicas caipiras, cuja presença em Goiás e Minas é considerável atualmente. O programa da cantora Inezita Barroso – VIOLA MINHA VIOLA – na TV CULTURA, é palco desses inúmeros violeiros que muitas vezes nos levam às lágrimas com suas modinhas predominantemente tristes e langorosas.
Enquanto isso, a nossa cantoria de repente caracteriza-se pelo confronto entre cantadores, ou seja, pelo desafio, cuja origem remonta à Grécia Antiga.
A esse respeito, muito se tem questionado, nos últimos tempos, na ânsia de aclarar as dúvidas e fincar uma estaca em algum ponto do tempo e do espaço que possa escorar confortavelmente os estudiosos do assunto e dar resposta firme ao enorme rol de curiosidades insatisfeitas. No Brasil, somente Cascudo estudou diretamente e com profundidade o assunto. Sílvio Romero, João Ribeiro, Gustavo Barroso, Rodrigues de Carvalho, Leonardo Mota, Renato Almeida, além de outros, cuidaram da cultura popular e do folclore, mas praticamente passaram de largo sobre a origem de nossa cantoria.

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