Ao completar
um século da seca mais severa da história nordestina (1915-2015) com mais um
período de estiagem, e um ano depois de a agricultura familiar tornar-se
prioridade para a Organização das Nações Unidas (ONU), a região, interpretada
pelo resto do País como sinônimo de sofrimento, revela-se, em alguns lugares do
Ceará, bem diferente, devido à ação de pequenos produtores. Continua sofrendo,
mas transformou-se, está reinventada, mais produtiva.
Mesmo sem a
convivência plena com o Semiárido, pois ainda espera-se pela total
descentralização dos recursos hídricos, muitos sertanejos já não são mais
reféns da água, como continuam sendo os habitantes das grandes metrópoles
brasileiras, os quais, atualmente, sofrem por não saberem lidar com a falta
d´água.
O cenário
continua drástico, com mortes de rebanhos e abastecimento precário. Os 127
reservatórios do Estado estão com 19% de sua capacidade total de armazenamento,
segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme).
Novas
possibilidades
No entanto,
alternativas para amenizar - e até sanar - os efeitos da estiagem foram
encontradas e, apesar desses baques, muita coisa mudou: o trabalho, a renda, a
diversão.
Como
propulsoras desse novo cenário, é impossível não reconhecer as ações do poder
público e de organizações não-governamentais. Porém, o grande beneficiado por
tudo isso também merece o maior crédito, pois foi da iniciativa dos próprios
nordestinos que experiências de convivência harmoniosa com a seca nasceram e
persistem, alimentando os que antes tinham fome.
Por uma
cultura sustentável
Para dar
continuidade e ampliar os exemplos de mudança, no entanto, todos os cearenses,
do Interior e especialmente os da Capital, precisam mudar o jeito como lidam
com a água.
A urgência
de que isso aconteça, lembrada apenas em tempos de crise hídrica, torna-se
ainda mais latente em um ambiente no qual a seca ainda castiga.
OPINIÃO DO
ESPECIALISTA
Por uma nova
cultura da água
Nos últimos
15 anos, a sociedade civil organizada vem trabalhando em prol do nascimento de
uma nova cultura da água, apresentando propostas aos governos e
sensibilizando-os a ser parceiros nesse processo de transformação no Semiárido,
por meio do aporte financeiro. E só há uma perspectiva: conviver com a seca.
Ainda existem pessoas sofrendo por conta desse fenômeno climático, isso é fato,
mas estamos no caminho certo.
Esse
sofrimento, porém, é bem menor que o verificado em outras épocas, quando não
haviam tecnologias como cisternas e barreiras subterrâneas, por exemplo. Os
pequenos agricultores não tinham o mínimo de condições para armazenar água e
garantir o sustento de suas famílias. Por outro lado, precisamos fazer a
seguinte pergunta: o que foi feito, historicamente, para reverter de vez essa
situação? Em 2015, a maior seca da história do Semiárido, de 1915, completa 100
anos.
Mas, o
registro mais antigo de seca foi em 1583. Ou seja, os governos não conseguiram
planejar e organizar ações que, de fato, mitigassem os graves efeitos da
estiagem. Trabalhou-se muito na perspectiva de grandes obras hídricas, quando o
mais importante é priorizar as pequenas obras para garantir a descentralização.
Precisamos,
também, avançar no sentido do desenvolvimento sustentável, diminuindo o consumo
exacerbado dos recursos naturais, que são limitados. Não só o governo e as
entidades não governamentais devem se empenhar nisso, mas toda a sociedade
civil.
Sou
extremamente otimista. Acredito que o Semiárido é um lugar bom de se viver, com
muitas oportunidades e uma grande diversidade. Entendendo melhor a seca,
podemos conviver harmonicamente com ela.
Alessandro
Nunes
Assessor
técnico da Cáritas Brasileira Regional/CE
Fonte:
Diário do Nordeste
Experiências de pequenos agricultores familiares dão nova cara ao Estado, marcado pela severidade da estiagem que tanto já prejudicou plantações e rebanhos. (Foto: Agência Diário) |
Folha Serrana, um site criado para mostrar os fatos e cultura dos Bastiões/Iracema e toda a região jaguaribana...
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