A
tuberculose está associada a uma doença secular, que, entre o fim do século XIX
e meados do XX, levou a óbito milhares de pessoas, entre elas, poetas e
compositores como Castro Alves, Álvares de Azevedo e Noel Rosa, no Brasil, e
John Keats e Lord Byron, na Europa. Para muita gente, é um mal debelado que, em
determinado momento da história, obrigou centenas de infectados a se exilar por
meses ou anos em sanatórios ou em cidades de clima ameno, para se tratar. No
Ceará, as cidades serranas e o Hospital Dr. Calos Alberto Studart Gomes, antigo
Sanatório de Messejana, eram opções.
Infelizmente,
a tuberculose - mesmo com a prevenção, tratamento e cura - não ficou no
passado. Ela está mais viva do que nunca, sendo um dos grandes desafios para a
saúde pública brasileira. No Ceará, a enfermidade mata, em média, 240 pessoas
por ano. Fortaleza contabiliza a metade desse total, com 120 óbitos. O Estado
está em sétimo lugar em número de casos anuais no País, são 3,5 mil ocorrências
e uma incidência de 37 por 100 mil habitantes. A taxa de mortalidade também é
alta: 2,8 por 100 mil casos. São Paulo lidera a lista nacional com 16 mil casos
por ano. No Nordeste, a Bahia aparece em primeiro, com 4,7 mil ocorrências.
A cada ano,
são notificados aproximadamente 70 mil casos novos no Brasil e ocorrem 4,6 mil
mortes em decorrência da doença. O País ocupa o 17º lugar entre os 22 países
responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo.
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que o surgimento da Aids e o
aparecimento de focos de tuberculose resistente aos medicamentos agravam ainda
mais esse cenário. O medo do preconceito também afasta doentes do tratamento.
Muitos, afirma a pneumologista Sandra Maria Pedrosa, negam ou negligenciam os
seus sintomas e, com isso, transmitem o bacilo para outras pessoas.
Na família
de Rosalina Silva, foi assim. O filho mais novo, viciado em drogas, contraiu a
doença e foi passando para o pai, mãe e irmãos. A dona de CASA foi procurar
ajuda no posto de saúde Carlos Ribeiro, na Jacarecanga. Lá, contou que a
condição do pai é tão grave que ele precisar que a equipe de saúde vá até a sua
casa. "Eu tomei os remédios, estou curada, assim como minha irmã mais nova,
que é especial. Tenho medo que meu pai não consiga sobreviver. Do meu irmão nem
sei, ele saiu pelo mundo afora. Que Deus tenha piedade dele", relata.
O que mais
chama atenção dos especialistas é que a tuberculose tem todo o tratamento
grátis e viabilizado integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
"Ainda assim, é uma dor de cabeça", afirma presidente da Associação
de Amparo aos Pacientes com Tuberculose do Ceará, enfermeira Argina Gondim, que
também trabalha na unidade do Jacarecanga. Ali, 44 pacientes fazem tratamento e
é um esforço constante. "Se ele falta, a gente telefona e manda um agente
de saúde para levar a medicação e vê-lo tomar, sem nem piscar o olho",
garante.
A associação
também faz um trabalho em campo junto aos moradores de rua. Todo mês o grupo
percorre as vias do Centro de Fortaleza em busca dessas pessoas.
"Conversamos, oferecemos merenda e colhemos material para exame dos que
apresentam tosse persistente", diz ela.
O trabalho
tem surtido efeito. No entanto, alguns doentes fogem e deixam o tratamento pela
metade. No ano passado, nove morreram por causa da doença.
Outros, como
no caso do ex-comerciário Francisco Elenilton de Lima, de 34 anos, se esforçam
para manter a medicação. Há cinco meses toma os remédios diariamente no posto.
"Não vou desistir. Quero meu trabalho e a minha vida normal de volta. Só
Deus sabe o que passo", conta.
O motorista
de ônibus Jonas Ferreira Barbosa, 59 anos, teve que se afastar do trabalho e
também está se tratando. "Comecei com uma gripe e a tosse não passou.
Tinha febre, dor no peito, catarro e um cansaço que não me deixava. Fiz os
exames e deu positivo. Tenho três filhos e procuro me cuidar, ficar bom. Eles
dependem de mim", menciona.
Fiscalização
Segundo
Argina, a preocupação em vigiar os doentes é para evitar que abandonem o
tratamento que é feito com três drogas diferentes: pirazinamida, isoniazida e
rifamicina. Durante dois meses, o paciente toma os três medicamentos e, a
partir do terceiro mês, toma só isoniazida e rifampicina. "O tratamento deve
ser feito durante seis meses, sem interrupção, para garantir que a doença seja
totalmente curada", diz a pneumologista e coordenadora do Ambulatório de
Controle da Tuberculose do HOSPITAL de Messejana, Tânia Brígido.
Nem todos os
doentes chegam ao fim da medicação, alerta, porque os sintomas da tuberculose
desaparecem logo nas primeiras semanas e a pessoa acha que já ficou boa, apesar
de grande parte das bactérias ainda estar viva dentro do organismo.
Quando o
paciente interrompe a terapia antes da hora, não está apenas prejudicando sua
saúde, mas dando oportunidade às bactérias de desenvolver resistência aos
medicamentos. "No início do tratamento, as drogas matam somente as
bactérias mais sensíveis", diz o pneumologista Carlos Alberto Carvalho. Os
micróbios mais resistentes sobrevivem e reiniciam a doença.
Referência
estadual no atendimento a pacientes com enfermidade, o HOSPITAL de Messejana
dispõe do ambulatório de tuberculose multirresistente. Atualmente, 152 pessoas
passam por tratamento.
Os pacientes
inscritos no ambulatório são atendidos por uma equipe multiprofissional formada
por duas pneumologistas, duas enfermeiras, uma assistente social, uma
farmacêutica e uma técnica de enfermagem.
Recebem
incentivos como vale-transporte e cesta básica, já que a condição socioeconômica
da maioria é precária, muitos vivem abaixo da linha da pobreza. As cestas são
doadas pela Associação Hebert de Sousa, instituição filantrópica ligada ao
HOSPITAL de Messejana.
A
transmissão da doença é a mais banal possível, por via aérea. Basta o doente
tossir, bocejar, espirrar ou mesmo cantar para que o ar ao seu redor se encha
da bactéria que causa a tuberculose, o Mycobacterium tuberculoses, mais
conhecido como bacilo de Koch. Pior, o micróbio consegue viver até 24 horas
suspenso no ar antes de entrar no pulmão de alguém. "Por isso a doença é
predominantemente urbana, surge quando há aglomerados de gente e isso é
preocupante", ressalta a especialista.
Estudos revelam
que tanto a hanseníase quanto a tuberculose estão intimamente ligadas às
condições de vida da população. Todas as doenças infecciosas proliferam em
áreas de grande concentração humana, geralmente nas periferias das grandes
cidades, com precários serviços de infraestrutura urbana como saneamento e
habitação, onde coexistem a fome e a miséria.
Prevenção
Para
prevenir a doença, salienta o médico, é necessário imunizar as crianças
obrigatoriamente no primeiro ano de vida ou no máximo até 4 anos, com a vacina
BCG. Crianças soropositivas ou recém-nascidas com sinais de Aids não devem
receber a vacina. A prevenção inclui evitar aglomerações, especialmente em
ambientes fechados, mal ventilados e sem iluminação solar. "A tuberculose
não se transmite por objetos compartilhados", reafirma.
De acordo
com o Ministério da Saúde, os sinais e sintomas mais frequentes são tosse seca
contínua no início e com presença de secreção por mais de quatro semanas,
transformando-se em uma tosse com pus ou sangue. Há ainda cansaço excessivo,
febre baixa geralmente no período da tarde, sudorese noturna, falta de apetite,
palidez, EMAGRECIMENTO acentuado, rouquidão, fraqueza e prostração.
Alguns
pacientes, entretanto, não exibem nenhum indício da doença, enquanto outros
apresentam sintomas aparentemente simples, ignorados durante alguns meses ou
mesmo anos.
A médica
pneumologista Cilea Aparecida Soares afirma que a tuberculose é oportunista.
"Se você estiver mal alimentado, estressado, passando por uma crise
depressiva forte ou está com alguma doença, como o DIABETES, tem mais chance de
desenvolvê-la. Portadores do vírus HIV podem desenvolver formas graves. Por
isso, devem manter-se sob constante observação médica", orienta.
FIQUE POR
DENTRO
Doença
surgiu na África há 70 mil anos
A
tuberculose (TB) não tem bandeira, uniforme ou pátria. A doença surgiu na
África há 70 mil anos e possui uma trajetória evolutiva próxima a dos seres
humanos. Em várias civilizações antigas, os males, entre eles, a tuberculose
eram considerados como "castigo divino".
No Brasil, a
chegada dos missionários trouxe também a disseminação da TB entre os índios.
Vários religiosos morreram de ou com TB como Manoel de Nóbrega, Francisco
Pirra, José de Anchieta e Gregório Serrão, entre outros. Isolamento em sanatórios,
repouso em clima de montanha, alimentação reforçada faziam parte do tratamento.
Fonte:
Diário do Nordeste

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