Diariamente,
50 caminhões pipa oriundos da Paraíba percorrem em média 200 km para captar
água no Açude Lima Campos, localizado no município de Icó, na região Centro-Sul
do Ceará. Essa situação ocorre quando o sertão nordestino enfrenta uma das
maiores crises de abastecimento dos últimos 50 anos e, com isso, reservatórios
e poços estão secando.
A partir do
próximo mês, o número de caminhões da Operação Pipa, coordenada pelo Exército,
na Paraíba, que faz a captação de água no Ceará, deve ser acrescido em mais 70
veículos. No total, serão 120.
Pelo menos
essa é a informação repassada pelos motoristas dos caminhões pipa (pipeiros)
que desde novembro do ano passado começaram a vir pegar água no açude Lima
Campos, reservatório administrado pelo Departamento Nacional de Obras e Combate
à Seca (Dnocs).
O vai-e-vem
de caminhões é intenso na margem do Açude Lima Campos. O serviço começa pela
madrugada, por volta das 4 horas. A maioria faz duas viagens diariamente para
socorrer milhares de famílias que enfrentam escassez de água no sertão
paraibano, percorrendo mais de 400km. São cerca de 20 municípios atendidos,
dentre eles: Uiraúna, Triunfo, Bernardino Batista, Poço Dantas, Cajazeiras,
Souza, Aparecida, São João do Rio do Peixe, Marizopólis, São José de Piranhas,
Diamante e centenas de localidades no Vale do Piancó.
Gravidade
"A
situação das famílias é grave e depende dessa água", disse o pipeiro
Jurandir Lacerda, que há seis anos trabalha como motorista de caminhão pipa, na
região de Uiraúna. "Os açudes secaram, não tem mais água nos poços e o
jeito que o Exército encontrou foi pegar água aqui no Ceará que está salvando a
Paraíba", disse. "A gente coloca água numa cisterna e as famílias
próximas vêm buscar com baldes".
Na manhã de
ontem, o pipeiro José Duarte de Aquino contou que quando o caminhão chega às
comunidades rurais, centenas de moradores se aglomeram e disputam uma lata de
água. "Cercam o caminhão e se a gente não tiver cuidado pode atropelar as
pessoas", disse. Há um ano que Aquino faz o transporte de água para o
abastecimento de famílias no município de Triunfo e há quatro meses começou a
viajar para o Ceará. "Esse açude é a nossa salvação", afirmou.
O sistema de
abastecimento dos caminhões é simples e improvisado nas margens do Açude Lima
Campos. Há dois motores movidos a óleo diesel que fazem o bombeamento para os
tanques por meio de canos instalados em forquilhas de troncos de árvores
nativas. Em 20 minutos, o caminhão fica cheio. Outros veículos têm sistema de
bombeamento próprio. O encarregado local, Kenedy Alves, confirmou que a partir
de fevereiro o movimento deve aumentar e serão 120 veículos vindos da Paraíba.
Preocupação
Nas
primeiras semanas da chegada dos caminhões os moradores de Lima Campos ficaram
preocupados, temendo a perda de água. "Sei que eles estão sofrendo, mas se
o açude secar a gente vai sofrer também", disse a dona de casa Francisca
Souza. O agricultor aposentado Raimundo Leandro da Silva gosta de acompanhar o
movimento dos veículos e mostrou ser favorável ao abastecimento. "Acho
certo porque eles precisam e todos são nossos irmãos", disse. O
reservatório Lima Campos, construído em 1932, um dos mais antigos do Nordeste,
acumula 55% de sua capacidade e é reabastecido pelo Orós, o segundo com maior
volume do Ceará.
Além de
afetar o abastecimento rural, o baixo nível dos reservatórios no sertão da
Paraíba já atingiu áreas de produção de banana e de coco em perímetros
irrigados, desde 2013, reduzindo a produção em 90%. Em Souza, o coqueiral no
perímetro irrigado de São Gonçalo foi drasticamente atingido. O mesmo ocorreu
em Cajazeiras, em núcleos de produção de banana irrigada.
O
coordenador da Operação Pipa, no município de Uiraúna, Lindon Johnson
Figueiredo, confirmou a gravidade da crise de abastecimento de água em cidades
da região: Triunfo, Joca Claudino, Poço Dantas, Vieirópolis, Bernardino Batista
e Uiraúna. "Temos 10 caminhões que atendem a 1500 famílias", disse
Figueiredo. "Até agora nada de chuva e parece que em 2015 a situação vai piorar".
De acordo
com dados da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), 28
açudes, dos 124 monitorados pelo órgão, estão com menos de 5% da capacidade
armazenamento. Outros 20 mananciais já apresentam volume morto.
Fonte:
Diário do Nordeste
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Água atende mais de 20 cidades, que mais estão sofrendo com os anos seguidos de seca. (Foto: Honório Barbosa) |

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