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8 de fevereiro de 2015

Profetas da chuva Especialista teme pelo fim da tradição

Um mês após a apresentação dos profetas da chuva acerca do prognóstico para a quadra invernosa deste ano, um especialista, o professor do Departamento de Estatística e Matemática Aplicada da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Ailton Alencar Andrade, doutor em Estatística pela Universidade de Sheffield, na Inglaterra, tem demonstrado preocupações sobre a continuidade dessa tradição.

Na avaliação dele os profetas merecem mais atenção, principalmente da ciência, quase nunca sem realizar estudos mais amplos sobre como as previsões são feitas. Há espaço para pesquisas na área de biologia, meteorologia, linguística, antropologia, etc. Um apoio maior poderia ajudar os profetas em suas previsões, adicionando a eles um pouco de método científico, para reduzir os vieses naturais de suas observações.

Ele também está preocupado com o não surgimento de profetas novos. "A tradição parece estar se perdendo com as novas gerações, surgem profetas de ocasião, para aparecer em fotos". Isso fragiliza a figura do profeta, que hoje ainda tem uma grande admiração por parte do grande público".

Esse quadro, negativo, é o resultado da pesquisa realizada neste ano pelo especialista. As técnicas estatísticas foram aplicadas a 15 profetas. Conforme Ailton Andrade, muitos deles já estão acostumados com o estudo, o que permite uma melhor aplicação do questionário. Pela primeira vez, os profetas demonstraram muita dúvida sobre a estação chuvosa. Embora, por meio de suas observações da natureza, tenham indicado o que acreditam que irá acontecer (bom ou fraco inverno), a maioria das previsões foram carregadas de incertezas. No período de Janeiro a Fevereiro de 2015, combinando todas as previsões, os profetas acreditam em uma chance de apenas 41% de bom inverno, porém com um erro relativamente alto de 31,2% para mais e para menos.

No período a partir de março, quando, para muitos, o inverno efetivamente se inicia, a probabilidade de boas chuvas, segundo os profetas, é de 52% com erro também alto, de 30,6%. As opiniões individuais de cada profeta estão dispostas nos gráficos acima, que mostram os período de janeiro a fevereiro e de março em diante, respectivamente.

O ponto em cada linha representa a probabilidade de bom inverno extraída do profeta por meio da metodologia, e a linha envolvendo o ponto expressa a incerteza do profeta sobre a própria previsão. Como se pode ver, a maioria deles tem grandes dúvidas, principalmente para o período de março a junho.

Segundo o pesquisador, vários aspectos contribuíram para essa incerteza. Alguns profetas estão bastante idosos e não conseguem mais ir a campo observar os animais e as plantas da Caatinga. Outros estão com a visão prejudicada devido à idade, isso também dificulta. Interessante notar a honestidade deles, em afirmar que não conseguiram ver um formigueiro ou algum outro fenômeno devido a problemas de saúde. Essa dúvida foi captada pelo método estatístico e expressa nos gráficos.

Esses estudos tiveram início a partir do Encontro de 2008, quando o pesquisador fez uma abordagem estatística das previsões. Observando a dificuldade em aplicar métodos clássicos no estudo de informações com um grau de subjetividade tão forte, ele recorreu a métodos da Estatística Bayesiana, uma visão diferente da Estatística tradicional, que permite estudar dados subjetivos, tais como opiniões, experiências anteriores, etc.

Os profetas, em média, são pessoas de pouca instrução, idosas e vivem no campo. Assim têm uma linguagem diferente da falada nas cidades. Expressões tais como "inverso desmantelado", "inverso quebrado", etc. Dificultam o entendimento. O conflito natural entre fatos e religião também pode dificultar as previsões. Por exemplo: mesmo tendo visto sinais de pouca chuva, ao se pronunciar a esperança por um bom inverno pode atrapalhar a previsão.

Questionário

Todos esses fatores têm contribuído para colocar os profetas no campo da cultura e não da ciência, assim, a atenção dedicada a eles tem sido mais no campo antropológico, artístico e cultural. Essas técnicas são chamadas de elicitação (eliciação) de conhecimento a priori e consistem basicamente em construir um questionário rigoroso, que envolve aspectos psicológicos e estatísticos, para eliminar os problemas citados acima e captar a opinião dos profetas sobre a quadra chuvosa. Um exemplo de como o questionário lida com os problemas: profetas que não possuem nenhuma noção formal de incerteza (probabilidade) são direcionados a expressar suas dúvidas na forma de jogo (apostas), que é uma linguagem mais fácil de entender.

A característica de interesse, que o pesquisador tenta extrair de cada profeta, é a "probabilidade de bom inverno", que é uma medida de fácil entendimento pelo público em geral, isto é, se um evento, por exemplo, tem 80% de chance de ocorrer, em geral as pessoas acreditarão que muito provavelmente ocorrerá.

Subsistência

Conforme os estudos, a definição de bom inverno, segundo os profetas, está associada à agricultura de subsistência, uma vez que a maioria deles mora no campo. Esta visão pode ser um pouco diferente para aqueles que vivem na cidade. Para os profetas, o inverno é quando a terra se mantém molhada durante o período, não necessariamente com água em abundância (reservatórios cheios, etc.), mas o suficiente para formação de pasto nativo para o gado e uma boa colheita.

As previsões se baseiam no comportamento da natureza. Na região do Sertão Central, insetos, pássaros, vegetação, etc., segundo eles, dependem muito das chuvas e, por isso, desenvolveram, ao longo da evolução, sensibilidade para prever o que irá acontecer nos próximos meses. Os profetas tentam elucidar esses sinais e traduzi-los para o público. No último Encontro, o XIX, realizado no dia 10 de janeiro, em Quixadá, 17 dos 26 participantes demonstraram otimismo. A quadra chuvosa este ano no Ceará será um pouco melhor do que a registrada no ano passado, mas ainda assim, o inverno não será o desejado.


Fonte: Diário do Nordeste

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