A partir do
sexto mês de vida, o feto começa a passar por modificações neurovasculares, que
determinam qual será a sua impressão digital. A marca de cada indivíduo,
tecnicamente chamada datilograma, é única e imutável durante a vida. Pelo fato
de identificar alguém com tanta precisão, a análise das impressões digitais é
largamente utilizada na elucidação de crimes. No Ceará, existe um Núcleo de
Papiloscopia, ligado à Coordenadoria de Identificação Humana e Perícias
Biométricas, que já conta com um banco de dados com cerca de 80 mil digitais
cadastradas.
O perito
papiloscopista Paulo Harison Medeiros de Carvalho explica que as chances de que
o exame de um datilograma não forneça a identidade precisa de uma pessoa são
praticamente nulas. "Não existe impressão digital igual. Gêmeos
univitelinos têm impressões diferentes; se for feito o clone de uma pessoa, as
impressões digitais dela e do clone serão diferentes. Estes traços se formam de
acordo com fenômenos ocorridos na gestação, então, é necessário que uma pessoa
seja gerada passando exatamente pelos mesmos episódios que você para que ela
tenha desenhos iguais. Todos os eventos devem ser os mesmos, nem um movimento
pode ser diferente", explica Paulo Harison.
Um software
desenvolvido pelo FBI, a agência federal de investigação norte-americana, que
confronta impressões digitais, foi implantado no Ceará para facilitar as
investigações de crimes violentos como homicídios, roubos, arrombamentos e
estupros. O Automated Fingerprint Identification System (AFIS), em português
Sistema Automatizado de Identificação de Impressão Digital, já está em uso há
cerca de um ano. O banco de dados criminal do Estado já foi totalmente
integrado ao programa.
"A
autoridade policial que vai até o local do crime recolhe o que considera
importante e nos envia os objetos que podem ter as digitais do culpado.
Revelamos as impressões e elas passam por um processo de digitalização. A
partir daí, submetemos o resultado ao AFIS e o programa faz o cruzamento de
dados. Se a impressão revelada por nós bater com a de alguma das 80 mil pessoas
cadastradas, o suspeito será imediatamente identificado", revelou o
perito.
O
papiloscopista diz que a ideia é que o banco de dados Civil também seja
integrado ao AFIS, o que aumentará muito as chances de que o software
identifique suspeitos de crimes.
"Com a
integração ao banco de dados civil, basta que o suspeito tenha um RG que ele
será identificado. Quando você vai tirar a carteira de identidade suas digitais
ficam arquivadas e isto já as tornará passíveis de um confronto. Será uma
revolução nas investigações de crimes violentos", considerou Paulo
Harison.
Preservação
O
papiloscopista lembra da necessidade da preservação do local do crime, para que
os vestígios deixados pelo suspeito não sejam violados. O tempo que uma
impressão digital pode ficar gravada depende da superfície tocada. No papel,
por exemplo, pode ser revelada uma impressão digital que tenha sido deixada há
até dois anos. Em tecidos, no entanto, a revelação só é possível até cerca de
uma semana após o contato.
"O
importante é que nenhum objeto seja desprezado. Em qualquer lugar pode haver
uma digital. A olho nu elas podem não estar visíveis, mas quando entram em
contato com um reagente, que pode ser um pó, um composto químico ou uma luz,
elas são reveladas e possibilitam que nós façamos o cruzamento de dados",
disse Carvalho.
O perito
lembra que o calor, a umidade e o vento podem também interferir na preservação
das digitais. Neste caso, é preciso que os objetos apreendidos sejam enviados à
Perícia Forense do Ceará (Pefoce) protegidos por plásticos.
Interior
Paulo
Harison Medeiros conta que a demanda que tem chegado ao Laboratório de
Papiloscopia é cada vez maior e que as autoridades policiais das Cidades de
Interior também estão se interessando pelo uso do software, que pode apontar com
precisão o suspeito de um delito.
"Antes,
nossa demanda era muito baixa no tocante à área criminal. Nosso trabalho era
mais voltado para a identificação dos mortos que davam entrada na Coordenadoria
de Medicina Legal (Comel), sem documentos. Com a implantação do AFIS e os
resultados que fomos apresentando, cada vez mais delegados têm nos procurado.
Temos recebido, inclusive, muita coisa do Interior do Estado. Isto é motivo de
alegria, porque nosso intuito é realmente colaborar, contribuir. Nosso espaço já
está ficando pequeno para tanta coisa e o laboratório vai passar por uma
expansão, para acomodar adequadamente os equipamentos e objetos
analisados".
Necropapiloscopia
Além da
parte criminal, os 12 papiloscopistas da Pefoce também fazem um trabalho junto
aos cadáveres que dão entrada na Comel, vítimas de violência. De todas os
corpos são colhidas impressões digitais.
"Temos
um caso de um corpo que nós colhemos digital, submetemos ao AFIS e descobrimos
que ele tinha sete identidades e respondia por crimes na Justiça com todos
esses nomes. Comunicamos à Polícia que os mais de 20 inquéritos em nome dessas
pessoas podiam ser parados, porque na verdade, eles se referiam ao mesmo homem,
que estava morto", contou Medeiros.
Márcia
Feitosa
Repórter
O perito Paulo Harison Medeiros diz que a demanda que chega ao Laboratório de Papiloscopia tem aumentado, por isto, o espaço será ampliado
FOTOS: HELENE SANTOS
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