Atualmente,
o Ceará tem cerca de 150 pessoas atendidas em programas de proteção a vítimas e
testemunhas, de acordo com a Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus). São
jovens e adultos que sofrem ameaças nas mais diversas situações. O número,
entretanto, poderia ser bem maior, pois poucos são os casos que chegam aos
programas de apoio. Ontem um seminário envolvendo o Estado e o Ministério
Público Estadual (MPCE) tratou do assunto.
"A
proposta é fazer uma divulgação dos programas de proteção, hoje integrados com
a temática do enfrentamento ao tráfico de pessoas", explicou a responsável
pelo Núcleo de Assessoria dos Programas de Proteção (Napp) da Sejus, Rachel
Saraiva Leão. O encontro reuniu profissionais da Justiça, da Segurança Pública
e de toda a rede que presta assistência social aos envolvidos nestas situações.
As pessoas
atendidas estão divididas em três programas de proteção: um para vítimas e
testemunhas ameaçadas, outro para crianças e adolescentes ameaçadas de morte, e
um terceiro para os defensores de direitos humanos.
Vítima
Em alguns
casos, é preciso remover a vítima ou testemunha de seu ambiente social.
"Quando ocorre a retirada, ela é feita na perspectiva de uma proteção
integral. A gente acompanha todo o processo de vida da pessoa: casa, estudo,
reinserção no mercado de trabalho. É como se ela fosse construir um novo
projeto de vida", afirmou Rachel.
Quando a
ameaça é contra os defensores, a pessoa é mantida no local. "Nessa
situação, a gente tem um trabalho muito forte de articulação com o apoio da
Secretaria de Segurança Pública", disse a assessora do Napp.
"Tentamos garantir uma rede de proteção das próprias entidades que tem
identificação com aquela causa", completou. Para ela, esta é uma forma de
disseminar a luta e dar visibilidade ao defensor "a ponto de que, para o
violador, seja um risco atentar contra a vida dele", resume.
As
intimidações a quem atua para defender pessoas em situação de risco incomodam o
Ministério Público. "Hoje, todas as autoridades do País estão sendo
ameaçadas. A ameaça não é só para as vítimas", ressaltou o corregedor
geral do órgão, Marcos Tibério Castelo Aires.
"Nós
temos ainda uma proteção, mas essas pessoas, principalmente de violência
doméstica, de assaltos e outros crimes não têm. A Constituição Federal assegura
a todos o direito à vida e não só a quem é autoridade", reconhece.
Esforço
Para o
titular da Sejus, Hélio Leitão, o seminário de ontem foi "um esforço de
divulgação desse trabalho, de envolvimento da sociedade civil em iniciativas
como essa".
Ele também
defendeu os programas de proteção. "Esses serviços são fundamentais e
promovem a defesa do Estado Democrático de Direito", declarou. "No
momento em que nós temos, por exemplo, vítimas ou testemunhas ameaçadas, isso
pode comprometer o desfecho de uma apuração policial, de uma investigação, de
um processo criminal. Isso compromete a realização do ideal de justiça",
finalizou.
Tráfico de
pessoas é impasse crescente
Uma
preocupação crescente para a Justiça é o tráfico de pessoas. "Esse é um
crime que consiste em iludir seres humanos, sejam homens, mulheres, crianças ou
adolescentes, com falsas promessas de melhores condições de vida",
explicou a coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP)
da Sejus, Lívia Xerez.
Segundo ela,
qualquer pessoa pode ser vítima deste crime. "Ele é multifacetado. Então,
a pessoa pode ser aliciada e se tornar uma vítima de exploração sexual,
trabalho escravo, casamento servil, extração de órgãos, mendicância e outras
modalidades", disse.
No Estado do
Ceará, já foram detectadas todas as modalidades de tráfico de pessoas. Contudo,
a mais recorrente é a exploração sexual, sendo as travestis as principais
vítimas. "Elas estão saindo daqui do Ceará, principalmente para São Paulo,
e lá são exploradas sexualmente com aquele sonho de ter a sua identidade de
gênero respeitada", diz.
"Elas
saem com essa esperança e quando chegam lá são completamente escravizadas e
muitas acabam morrendo ou não retornando aos estados de origem", denuncia.
Notificações
O trabalho
de proteção às vítimas de tráfico é prejudicado pelo baixo número de
notificações que a Justiça recebe. No ano passado, o NETP recebeu apenas 35
notificações. Para Lívia Xerez, o problema se dá porque muitas das ocorrências
de tráfico de pessoas não são classificadas como tal pelos órgãos de segurança
que recebem as ocorrências.
"Nós
precisamos crescer, precisamos divulgar o trabalho preventivo. É essencial que
todo mundo conheça o tráfico e que já existe uma rede para dar proteção a quem
deseja denunciar, figurar num inquérito policial ou num processo judicial como
testemunha", afirma.
Mais
informações
Disque
Direitos Humanos: 100
Central para
atender à mulher: 180
Núcleo de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP): 3454.2199
Germano Ribeiro
Repórter
No Estado do Ceará há diferentes registros de todas as modalidades de tráfico de pessoas. No entanto, a mais recorrente é a exploração sexual |
Folha Serrana, um site criado para mostrar os fatos e cultura dos Bastiões/Iracema e toda a região jaguaribana...
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