Sexta feira, 31 de julho, último dia do mês e dia de Lua
Cheia. A segunda Lua Cheia do mês, a tão falada Lua Azul. Não se trata da Super
Lua, que vem a ser a Lua Cheia que ocorre quando ela está no ponto da órbita
mais próximo da Terra, chamado de perigeu. Muito menos se trata da Lua de
Sangue, que é quando a Lua fica com uma cor alaranjada ou avermelhada durante
um eclipse lunar. Aliás, esse é um termo bem infeliz. Lua cheia
A expressão “Lua Azul” tem sido usada há pelo menos 400 anos,
mas não como sendo a segunda Lua Cheia do mês. Este significado nasceu de um
erro ocorrido em 1946 e se tornou popular nos últimos 20 anos.
Ao longo da história recente da humanidade, esse termo tem
sido usado de diferentes formas. Olha só.
No século XVI dizer que a Lua era azul significava exprimir
algum tipo de exagero. Dizia-se: “fulano é tão desligado que poderia falar que
a Lua é azul!” Esse conceito levou a outra expressão que indicava uma
probabilidade bem remota de algo acontecer. Por exemplo, no século XVIII, dizia-se:
“eu pagarei minha dívida com você quando a Lua estiver azul!”
Apesar de parecer estranho, já houve algumas vezes em que a
Lua se tornou azul de fato. Em 1883, quando o vulcão Krakatoa explodiu na
Indonésia, a atmosfera ficou carregada por partículas de poeira e cinzas
vulcânicas que fizeram o pôr do Sol ficar esverdeado e deixaram a Lua azul no
mundo todo por quase dois anos!
Sempre que há uma grande quantidade de poeira na atmosfera
esse efeito se repete. Foi assim em 1927 na Índia, quando depois de uma enorme
seca, uma tempestade levantou toneladas de poeira na atmosfera; ou em 1951
quando um enorme incêndio florestal no Canadá lançou uma enorme quantidade de
cinzas que deixaram a Lua com aspecto azulado.
Em tempos mais modernos a expressão Lua azul se tornou um
sinônimo de coisa rara, mas também de tristeza. Várias músicas usam esta
expressão para associar tristeza e solidão, basta checar algumas músicas de
Elvis Presley.
Já no final dos anos 1980 nos EUA a expressão Lua azul se
tornou moda. Foi uma febre que fez milhares de restaurantes e mostras de arte
abrirem com este nome. Se você for do meu tempo vai se lembrar daquela série de
TV com a Cybill Shepherd e o Bruce Willis em começo de carreira, que no Brasil
se chamava “A Gata e o Rato”. Eles tinham uma agência de investigação
particular que se chamava “Blue Moon” e o nome original da série era
“Moonlighting”. Nessa época Lua azul também significava uma segunda Lua cheia
em um mesmo mês. Mas nem sempre foi assim.
Esse é um daqueles casos em que uma definição nasce de um
erro e, de tão popular, acaba se tornando a versão oficial. A definição de Lua
azul apareceu em um livro chamado “Almanaque do Fazendeiro do Maine” nas
edições dos anos entre 1819 e 1962 e em nenhum destes exemplares a definição é
esta que conhecemos.
A explicação que aparece neste almanaque é bem diferente e
tem mais a ver com as estações do ano, do que com os meses. É assim:
“Em primeiro lugar considera-se o ano tropical, aquele que
começa em um solstício de inverno (21 de dezembro para o Hemisfério Norte) e
vai até o solstício de inverno seguinte. A maioria dos anos tropicais consegue
conter 12 Luas cheias, três em cada estação do ano portanto. Cada uma delas tem
um nome peculiar associado à época do ano, tipo “Lua da colheita”, “Lua do
lobo” ou “Lua de neve”. Ocasionalmente, temos um ano tropical com 13 Luas
cheias, o que significa que uma das estações do ano deverá ter quatro, ao invés
de três. Considere esta estação com quatro Luas cheias, a terceira delas a
ocorrer é chamada de Lua azul, conforme o almanaque.
Essa definição começou a mudar em julho de 1943 em uma coluna
de perguntas e respostas da tradicional revista norte-americana de
popularização de astronomia chamada Sky & Telescope. Laurence J. Lafleur
citou o fato de ocasionalmente haver 13 Luas Cheias em um ano, mas não disse
que se tratava de um ano tropical. Ainda assim ele não falou nada de duas Luas
Cheias em um mesmo mês.
Mas a vaca foi para o brejo mesmo em março de 1946. Na página
3 da edição deste mês, James Pruett, um astrônomo amador que escrevia
costumeiramente para a mesma revista, em um especial sobre meteoros, resolveu
falar sobre Luas azuis. Ele repetiu uma conclusão do tal almanaque, que dizia
que: “Em 19 anos, sete vezes aconteceu (e ainda acontece) de haver 13 Luas
cheias em um ano. Isto dá 11 meses com uma Lua cheia e um mês com duas”. Mas
concluiu erroneamente: “esta segunda Lua cheia do mês, assim eu interpreto, foi
chamada de Lua azul.”
Talvez por ser mais fácil de se entender, a própria revista
encampou esta nova definição e passou a tratar desta maneira em suas páginas.
Na década de 1980 a onda se espalhou e agora não tem mais volta.
Isto não é uma coisa ruim de todo, quantas pessoas aí não
acharam que o novo milênio começava em primeiro de janeiro de 2000? Este erro
tem sim implicações mais profundas do que confundir uma Lua azul. Entretanto,
uma diferença fundamental pode ser notada das definições. Pelo almanaque, uma
Lua azul pode ocorrer em qualquer mês do ano, basta ser a terceira Lua cheia da
estação. Já pela definição da revista, não é possível que ocorra uma Lua azul
em fevereiro e os meses de 31 dias são os mais prováveis de ter uma. Isto
porque o intervalo de tempo entre duas Luas cheias consecutivas (uma lunação) é
de 29 dias e uns quebrados. Como fevereiro tem 29 dias redondos, mesmo assim
apenas a cada 4 anos, não tem jeito de caber duas lunações.
A Lua não vai ficar azul, mas isso não é motivo para não sair
de casa para admira-la. Uma Lua Cheia, em uma noite limpa faz bem de ver e,
quem puder, de fotografar.
Crédito da imagem: Gregory Revera/ Wikipedia

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