Passada a quadra chuvosa, tem início a temporada dos ventos no Ceará, que vai até setembro. Para praticantes de esportes náuticos à vela, essa é a melhor época do ano. É quando windsurfistas e kitesurfistas do mundo inteiro vêm ao Estado aproveitar o período para velejar. Entretanto, para pescadores artesanais, que dependem da ida ao mar para tirar o sustento, os ventos fortes representam um risco, pois além de mais intensos, eles sopram da costa para o mar.
Desde junho, os ventos vêm, aos poucos, ganhando força. Mas é em setembro que atinge o ápice, onde a média de velocidade na Capital passa dos 16Km/h, com rajadas que podem chegar aos 50Km/h.
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) explica que a mudança ocorre por causa do deslocamento do sistema de Alta Pressão Atmosférica do Atlântico Sul, típico desta época do ano. Desde junho, esse sistema, que se posicionava abaixo do trópico de capricórnio, vem se movendo no sentido Norte e fica sobre o oceano, próximo à costa do Nordeste brasileiro. Dessa forma, é intensificada a velocidade dos ventos, que sopram na direção Sudeste-Noroeste.
Possidônio Soares Filho, presidente da Colônia de Pescadores Z-8, comenta que é um período perigoso para qualquer embarcação, principalmente as de menor porte, com menos de sete metros, à vela. Por isso, alerta os pescadores que o cuidado deve ser redobrado. Como não pode deixar de pescar, ele enumera alguns cuidados que precisam ser tomados. Entre eles, evitar sair com a vela velha.
Deriva
O presidente da Z-8 conta que, na última quinta-feira, uma forte ventania rasgou a vela de um bote de casco - embarcação um pouco maior que uma jangada. Sem ter como seguir para a pescaria e nem como voltar para terra, o bote ficou à deriva. Felizmente, como ainda estava próximo da costa, foi possível fazer o resgate. Observar se o mastro e a tranca estão em perfeito estado de conservação é outro cuidado importante. "Se estiver com alguma rachadura, um vento forte vai acabar quebrando", previne.
Na parte de segurança, um cuidado imprescindível, que pode salvar a vida da tripulação, é o uso do colete salva-vidas. Mesmo que não queira utilizar no corpo, Possidônio explica que é importante que fique ao alcance do pescador, em um local que possa acessar facilmente. Dessa forma, caso ocorra um acidente, fica mais fácil de ele sobreviver.
"O pior período do ano para o pescador é esse. Mas, como todo ano acontece, a gente tem que aprender a conviver com ele. Lembrando que tem que ter cuidado com a prevenção, para diminuir o alto índice de vítimas", reforça.
Ocorrências
De acordo com a Capitania dos Portos do Ceará, oito acidentes ocorreram, de janeiro a julho deste ano, em todo o Estado. Destes, um por emborcamento e outro por colisão entre duas embarcações. Em todo o ano passado, foram registrados seis, sendo um por emborcamento, dois por encalhe, um por colisão e dois acidentes: um originado por incêndio e outro por naufrágio. Jangadas e paquetes são as embarcações que mais se envolvem em acidentes de navegação, normalmente em atividade de pesca. Porém, a Capitania deixa claro que toda embarcação, independentemente do seu porte, está sujeita a acidentes.
Uso de coletes salva-vidas por todos os tripulantes e passageiros, não exceder a lotação estabelecida, a embarcação ser provida por uma boia salva-vida e, antes de partir para viagem ou passeio, conferir as previsões meteorológicas disponíveis, são alguns cuidados que a Capitania dos portos cita como importantes para serem tomados.
Além disso, acrescenta que o pescador deverá estar atento a eventuais sinais de mau tempo, como o aumento da intensidade do vento, do estado do mar e a queda acentuada da pressão atmosférica.
Luana Lima
Repórter Os ventos ganham força no Estado desde junho, mas é em setembro que o ápice é registrado, com a velocidade média de 16 Km/h
FOTO: JOSÉ LEOMAR

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