Mesmo com o
trabalho de perfuração de poços, a demanda por água deverá aumentar nos
próximos 60 dias, quando as reservas hídricas deverão diminuir. Para piorar, a
oferta de ração tem ficado aquém das necessidades do rebanho, causando
prejuízos para os pecuaristas pelo terceiro ano consecutivo.
Insuficiência de estoque de milho
A última
remessa de milho, de média quantidade, aconteceu em julho, com 15 mil t. O
Ceará tem uma demanda mensal de 34 mil t.
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FABIANE DE PAULA
Fortaleza. O
agravamento da seca nos próximos meses de outubro e novembro deverá afetar
fortemente a pecuária cearense. Além dos efeitos da falta d'água, os estoques
de ração têm sido insuficientes para atender à demanda. Atualmente, o milho
(principal fonte de comida para os animais) disponível nos armazéns da
Companhia Nacional de Alimentos (Conab), no Ceará, é de 6 mil toneladas, sendo
que a metade já está comprometida com a distribuição para os municípios de
Juazeiro do Norte e Maracanaú.
A
expectativa da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) do Estado é que o
gado seja ainda mais penalizado em regiões onde não há mais disponibilidade de
água nos mananciais, especialmente as localidades serranas.
O assunto
foi debatido, ontem, durante a reunião do Comitê Integrado de Combate à Seca,
que acontece todas as segundas-feiras, na sede do Comando Geral do Corpo de
Bombeiros Militar do Ceará, localizado no bairro Jacarecanga, na Capital. O
problema que aflige os pecuaristas foi especialmente destacado pelo delegado
federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Francisco Nelsieudes Sombra
Oliveira. Segundo ele, mais do que o abastecimento de água para as populações
rurais no Estado, a situação mais alarmante é para o rebanho, haja vista o aumento
na restrição de reservas hídricas.
Estoques
Além da
falta d'água, a reunião discutiu os estoques de milho que atendem aos
produtores, principalmente quando já não se conta com as opções de pastagens,
geradas pela estação chuvosa. O secretário adjunto da SDA, Antônio Amorim,
informou que o Estado possui uma demanda de 34 mil toneladas de milho por mês.
Enquanto isso, o quantitativo ao longo deste ano foi de 29 mil toneladas. A
última remessa chegada à Conab foi de 3 mil toneladas (com fim específico para
atender Juazeiro do Norte e Maracanaú), que se somam com mais três mil
toneladas que deverão ser destinadas para o restante do Estado. Em julho, o
último envio do produto ao Ceará, o quantitativo foi menos da metade da
necessidade. Ou seja, 15,6 mil toneladas.
Preocupante
"Nós
estamos reivindicando ao governo federal um aporte maior de milho porque
preocupa a situação da pecuária", disse Antônio Amorim. Ele acredita que
há indicadores de agravamento da falta d'água piorando o quadro para a
subsistência do rebanho, mas disse que "em nenhum momento está sendo
colocada a possibilidade de sacrifício do rebanho". O Ceará detém, hoje,
2,6 milhões de bovinos, 2,8 de ovinos e cerca de 1 milhão de caprinos.
O diretor
técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce),
Walmir Severo, entende que tanto a água como a ração sofrem com o impacto dos
três anos seguidos de seca. Com relação às reservas hídricas, lembrou que o
gado vem sendo sustentado por poços profundos, mas mesmo esses são susceptíveis
ao esgotamento, penalizando ainda mais produtores. Contudo, disse que não há
sinais de uma previsão trágica, como alguns setores chegaram a dizer que a seca
havia dizimado boa parte do rebanho há dois anos, quando na verdade apenas 4,6%
foi atingida. "É um percentual elevado, mas nada comparável ao grande
engano comentado em 2012", afirmou.
Incipiente
Com relação
ao alimento, ele lembrou que 2014 foi melhor com relação às pastagens nativas,
uma vez que houve localidades onde ocorreram muito mais precipitações do que no
ano passado. Entretanto, salientou que não se trata da principal base
alimentar, havendo necessidade de oferta da produção irrigada, o que até agora
tem sido incipiente. Com isso, observou que há um encarecimento nos derivados,
especialmente com relação ao segmento leiteiro. Ele lembrou que há três anos, o
gasto do produtor com o litro de leite era de R$ 0,45. Atualmente, é de R$
0,90, tendo um aumento de 100%. Durante a reunião, houve uma exposição de
esforços conjuntos para se priorizar a perfuração de poços, quer pela abertura
de linhas de crédito, assistência técnica para estudos de terrenos e até mesmo
a entrega de equipamentos. De acordo com Antônio Amorim, o Ceará já detém cerca
de 15 mil poços profundos regulares, sendo mais de 7 mil pertencentes ao poder
público.
Critério
Ele informou
que os pedidos para novas unidades não têm cessado, apesar de existir
regulamentação mais criteriosa. Com o objetivo de reduzir a quantidade de
perfurações ociosas e superpostas no enfrentamento da seca, a Secretaria dos
Recursos Hídrico (SRH) exige que cada localidade requeira apenas um poço e
somente serão aceitos aqueles com estudo geofísico, além da doação da área
necessária para implantação dos poços. "Foram medidas necessária, mas ao
alcance das cidades cearenses", ressaltou Amorim.
Mais
informações:
SDA
Av. Bezerra
de Menezes, Nº 1820, São Gerardo - Fortaleza
Telefone:
(85) 3101.8002
Marcus
Peixoto
Repórter
Folha Serrana, um site criado para mostrar os fatos e cultura dos Bastiões/Iracema e toda a região jaguaribana...
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