Enquanto
espera pela conclusão da adutora de 53 quilômetros que vai trazer água do açude
Senador Pompeu, Canindé vive a pior crise hídrica da sua história. Os três
açudes que abasteciam a Cidade secaram. A população está apreensiva. Por
enquanto, os poços profundos estão atendendo à comunidade. Situação parecida
ocorre em outras regiões do Estado, que vive a pior seca dos últimos 60 anos.
Além disso, a previsão para a pré-estação chuvosa (dezembro e janeiro), além do
mês de fevereiro, é de precipitações abaixo da média histórica.
O conjunto
de açudes que abasteciam Canindé - São Matheus, Sousa e Escuridão - foram
desativados por conta do volume morto. A Cidade enfrenta sérias dificuldades no
seu abastecimento. Tem gente que chega a ficar até 20 dias sem saber o que é
água nas torneiras de casa. Nos locais onde havia imensas reservas, hoje em dia
só se vê um verdadeiro mar de lama ou o chão rachado.
Para fazer
frente à crise e amenizar os efeitos da seca a Prefeitura anunciou que existe
um plano de emergência para aproveitar as águas dos 22 poços profundos
perfurados na sede do Município. Entretanto, o consumo é alto e, em muitos
bairros, a situação piora a cada dia.
O prefeito
Celso Crisóstomo lamenta que o principal empecilho para resolver esses
problemas é a falta de dinheiro "É necessária à descentralização de
recursos para que as prefeituras possam atuar de maneira emergencial e evitar
tantas dificuldades".
Em razão da
gravidade do quadro, o prefeito viajou na madrugada desta terça-feira a
Brasília a fim de buscar soluções para os problemas hídricos da região.
No bairro da
Palestina, distante cerca de 20 metros do açude São Matheus, moradores reclamam
todos os dias da falta de água. A dona de casa Maria Dejanira dos Santos, 57
anos, disse que já passou até duas semanas sem água na torneira. "Aqui é
uma situação triste. Quem pode compra um latão de água de mil litros por R$
25,00. Quem não tem, fica à mercê da própria sorte", denuncia a doméstica.
Francisco
Inácio dos Santos, todos os dias pega da água que resta no açude para tomar
banho e lavar louça e roupa. “É suja, mas, com um pouco de paciência, dá para
aproveitar o que fica em cima da vasilha”.
No bairro
São Matheus, que leva o nome do reservatório construído em 1957, a situação é
parecida. O comerciante José de Almeida Braga, 59 anos, lamenta. "Quem tem
dinheiro compra água de procedência duvidosa. Os que não têm ficam desprezados,
sem saber a quem apelar". No bairro de Cachoeira da Pasta, água é coisa
rara. A costureira Terezinha Sampaio Moura, 54 anos, garante que está comprando
água para beber, tomar banho, cozinhar e lavar.
“São R$
100,00 todo mês e com uma condição é preciso poupar para garantir os 30 dias,
caso contrário os quatro mil litros de água vão embora rapidinho’’, disse em
tom de preocupação”.
Passados
quase seis meses, a adutora que vai levar água de General Sampaio para a cidade
de Canindé ainda não ficou totalmente concluída.
Segundo o
engenheiro sanitarista ambiental do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE),
José Elias Teixeira Rodrigues, a adutora está funcionando através de gerador
até a estação de tratamento de São Domingos, que levará água para o vizinho
município de Caridade. O SAEE explicou em nota que "a sede está passando
por um período de transição de fontes de captação de água". O último
bombeamento do açude Escuridão foi em 3 de dezembro".
Água suja
Na zona
rural a situação também é crítica. Muitas famílias ainda dependem doe
carros-pipas. Até crianças se revezam buscando água suja e poluída. O líquido
amarelado vem de poços cavados manualmente por agricultores de áreas
ribeirinhas como última salvação para matar a sede.
Para os mais
antigos, essa é a maior seca dos últimos 60 anos. "Nunca tinha visto coisa
igual. Se continuar assim, vai morrer muito bicho de fome e sede'', fala em voz
lenta o agricultor Argemiro Correia Flores, 89 anos, que mora na comunidade de
Salão II, onde as crianças tiram água para afazeres de casa.
Situação
também é bastante crítica nas demais
regiões
Na Bacia do
Alto Jaguaribe, o nível dos grandes e médios reservatórios ainda é confortável,
mas o problema de desabastecimento é grave em comunidades isoladas que dependem
de pequenos açudes e de poços. As reservas hídricas secaram ou estão secando e
a salvação é o abastecimento por carro-pipa. No município de Quixelô, centenas
de famílias da zona rural estão desesperadas. Há dois carros-pipa que não
atendem à demanda. "A situação está se agravando e precisamos de novas
rotas de abastecimento", disse o secretário de Agricultora, José Costa.
"A burocracia atrasa a implantação de projetos do Água para Todos e isso traz
dificuldades para as famílias".
No município
de Iguatu, o maior da região Centro-Sul, somente o carro-pipa doado pelo
governo federal, do PAC, faz o abastecimento de dezenas de comunidades. A
secretária de Agricultura do município, Edileuza Pereira, criticou duramente a
Comissão de Defesa Civil do Estado. "Só mandaram um carro que quebrava
toda semana e há vários meses está paralisado", disse. "Já
solicitamos novo caminhão e ampliação da rota, mas não fomos atendidos".
Pelo menos 18 comunidades sofrem com a falta de água em Iguatu.
Cariri
Na região do
Cariri também há municípios enfrentando dificuldades de abastecimento para o
consumo humano. As situações mais preocupantes estão sendo vividas pelos
moradores dos municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri, Potengi e Antonina
do Norte, que dividem a água coletada em duas nascentes no sopé da Chapada do
Araripe para continuarem usufruindo da água através de carros-pipas. Somente em
Santana do Cariri, a escassez hídrica já atinge cerca de 12 mil pessoas. Nas
comunidades mais afastadas dos mananciais de captação, o sofrimento é ainda
maior.
"Nós
temos comunidades distantes até 50 km dos locais onde a água vem sendo coletada
para o abastecimento através dos carros-pipas que atendem o nosso município
através das Defesa Civil do Estado. Nestes locais, a demora para abastecimento
é ainda maior. Isso gera transtornos e preocupação aos moradores destas
áreas", informou o secretário de Agricultura do município, Joaquim Major.
Segundo ele,
a estiagem observada nos últimos três períodos de quadra invernosa fez com que
o açude Tatajuba, principal manancial de abastecimento do município, acabasse
perdendo a capacidade de abastecimento. Atualmente o reservatório apresenta,
apenas, 15% de sua capacidade total já se encontrando, portanto, no volume
morto.
"Mesmo
que o volume fosse maior, a qualidade da água é imprópria para o consumo
humano. Seria necessário um tratamento demorado para que a população pudesse
voltar a utilizar a água desse reservatório", avalia Joaquim Major.
Inhamuns
Crateús é
uma das regiões mais prejudicadas com a ausência de chuvas. Os reservatórios
que abastecem a cidade estão comprometidos. O açude Carnaubal está com apenas
0,04% da sua capacidade. Além dele, a cidade é abastecida pela barragem do
Batalhão, que está com 28,18% de volume.
Antônio C.
Alves/Sucursais
Colaborador Fonte Diário do Nordeste
Na tentativa de amenizar a sede, agricultores que residem em áreas ribeirinhas cavam poços de forma manual para retirar água barrenta |
Até crianças buscam água para beber, mesmo de qualidade duvidosa
FOTOS: ANTONIO C. ALVES
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