Iguatu. O
ano está terminando com uma decisão que afeta diretamente os produtores de
leite da agricultura familiar no Interior. Os laticínios estão deixando de
comprar o produto dos pequenos criadores de áreas mais distantes, alegando
excedente de produção. No campo, os agricultores estão desesperados, lamentam
prejuízo e apelam para sensibilização do governo do Estado do Ceará.
A pecuária
leiteira cearense vivencia duas realidades distintas. O setor não teve crise de
produção por conta da seca. Pelo contrário, apresentou um aumento estimado em
35% de janeiro a outubro, em relação ao mesmo período de 2013. As dificuldades
surgiram em relação à comercialização do produto, afetando criadores das
regiões Centro-Sul, dos Inhamuns e de outras áreas.
No distrito
de Flamengo, zona rural do município de Saboeiro, na região Centro-Sul do
Ceará, a situação é desanimadora para dezenas de produtores que investiram na
atividade e abasteciam os tanques de resfriamento, instalados na comunidade. Em
média eram produzidos 500 litros de leite por dia. A última coleta de leite
está registrada em um caderno e a data assinala 15 de novembro. Desde então, o
reservatório esta vazio.
"Estamos
desanimados, sem saber o que fazer, amargando prejuízo", lamentou o
produtor rural, Antônio Derli Nogueira, presidente da Associação Comunitária
dos Moradores do Distrito de Flamengo. O agricultor Raimundo dos Santos
investiu em parceria com um irmão mais de R$ 17 mil na compra de matrizes de
boa qualidade genética, melhorou as instalações e fez plantio irrigado de
capineira e milho. "As empresas compravam a produção, mas agora disseram
que não querem mais porque o leite está sobrando", contou.
Somente em
dois tanques de resfriamento, no distrito de Flamengo, mais de 40 criadores
foram afetados diretamente. "A nossa situação é de tristeza porque
investimos confiando e acreditando na comercialização", disse Nogueira.
"Leite não serve para armazenar".
Os
produtores investiram no setor, na compra de animais de melhor qualidade
genética, implantação de sistema de irrigação e melhoria das instalações das
propriedades. E agora correm o risco de perder tudo. O governo e os laticínios
incentivaram a expansão da pecuária leiteira, os agricultores contraíram
financiamentos por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (Pronaf) e também do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do
Nordeste (FNE) para custeio e investimento.
No município
de Tauá, o quadro é desolador para 260 agricultores da Cooperativa de
Produtores de Leite dos Inhamuns. "A maior parte já foi excluída pelos
laticínios e não tem para quem vender o leite", frisou o diretor da
entidade, Marcos Marcelino Gonçalves. "Os custos de criação subiram, o
preço da ração, do milho, do farelo de soja e torta de algodão e a única renda
do produtor era a venda do leite".
Interferência
No pasto, os
animais de alta linhagem genética estão perdendo peso. O produto in natura era
vendido a 90 centavos o litro. "Agora serve somente para alimentar os
bezerros", lamenta o produtor João Mendonça Evangelista, do distrito de
Flamengo.
"Ninguém
aqui imaginava que isso poderia ocorrer". Mairton Palácio, diretor da
Unidade de Pecuária Iguatuense (Upeci), defende a ideia de que o Estado deveria
interferir no mercado para evitar o aprofundamento da grave crise.
Honório
Barbosa
Colaborador
Folha Serrana, um site criado para mostrar os fatos e cultura dos Bastiões/Iracema e toda a região jaguaribana...
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